A economia do fim do mundo
Adalberto Marcondes*
O mundo perdeu mais de um trilhão de dólares desde o início da crise nos mercados financeiros internacionais. Empresas e países estão contabilizando os prejuízos e certamente muitas pessoas serão afetadas. Dos mais de seis bilhões de habitantes da Terra cerca de dois bilhões vivem neste mundo de faz de conta onde o dinheiro deixou de ser um instrumento de compra de produtos e serviços para ser uma ficção financeira. O restante vive em um mundo onde o dinheiro vale pela comida que pode comprar. E, se não há dinheiro, arranja-se algo para trocar pela comida. O mundo real sempre se ajusta.
No entanto, a crise no modelo econômico baseado nas finanças internacionais é, também, uma brisa sobre outros grandes problemas da humanidade. O mundo ganhou um tempo para que a Terra encontre saídas para questões realmente vitais. Menos dinheiro vai representar menos atividades econômicas e, certamente, menos queima de combustíveis fósseis. Menos comércio internacional vai representar, também, menor preço para as commodities e, portanto, menos pressão sobre as áreas de floresta. A Amazônia vai ganhar um fôlego. Os tradicionais compradores de carne e soja não estarão mais tão ávidos por estes produtos, ao menos nos próximos meses.
A economia é uma ciência interessante, perde toda a sua racionalidade ao menor sinal de problemas. E quando os atores econômicos entram em pânico a economia entra em recessão. Isto quer dizer que a atividade econômica pára de crescer e recua. Bom, isto pode representar um ganho considerável se pensarmos em termos dos dilemas ambientais do planeta. É preciso fazer a conta de quanto CO² deixará de ser emitido nos próximos meses ou anos. Cruzar esta informação com as projeções do IPCC e ver os ganhos da crise.
A área ambiental ganhou um tempo precioso. Enquanto os financistas fazem as contas das perdas, é preciso que os cientistas e gestores ambientais façam as contas dos ganhos. O recuo das atividades econômicas é, também, a oportunidade de reconstruir a economia dentro de novos paradigmas. A própria geração e acumulação de riquezas foi colocada em xeque. Afinal, que sistema é esse para se guardar dinheiro que permite que mais de um trilhão de dólares deixe de existir em apenas duas semanas. E não é a primeira vez, a lembrança da quebra das empresas de internet ainda é fresca, quando milhares de “ponto com” viraram “ponto morto”.
Quando aconteceram crises na Coréia e na Rússia os analistas disseram que eram na periferia do sistema. Bem, Wall Streeet está no centro do mundo. E a queda deste muro pode fazer o mundo buscar outro ponto de equilíbrio. Algo mais próximo da sustentabilidade e não da busca pelo crescimento eterno baseado em recursos finitos.
É preciso minimizar as perdas para evitar uma recessão que leve à fome e mortes pelo mundo. Mas é preciso, também, pensar em fortalecer economias que são focadas em gerar alimentos, habitação, saúde, educação e bem estar. Bens de consumo devem ter utilidade e longevidade. O modelo da obsolescência e do descartável não serve para o futuro. Foi uma forma de inflar a economia mundial e gerar mitos, mas na pode ser transportado para as futuras gerações.
As bolsas de valores ao redor do mundo vão sair deste círculo vicioso de quedas provocadas pelo pânico. E quais são as empresas que vão ressurgir mais fortes? Empresas focadas na sustentabilidade são as que têm mais chances de ser fortes e lucrativas quando a crise acabar. As apostas no velho modelo estão sendo cobradas. Depois da crise é um bom momento para mudar o jogo, apostar em regras mais transparentes e empresas mais comprometidas com a realidade de um planeta finito.
* Editor da Envolverde
http://dalmarcondes.blig.ig.com.br/
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
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