quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Mãos sujas, consciência limpa...

Texto e foto: Lia Sahadi
Especial para este blog

São muitos os trabalhadores por conta própria que, bem ou precariamente estabelecidos nas entrequadras do Plano Piloto, ganham a vida facilitando a vida dos moradoradores. Quem tem um eletrodoméstico mais antigo, que já saiu da garantia, não precisa ficar aguardando a boa-vontade das empresas de manutenção e reparos, vinculadas às grandes marcas, sempre desfalcadas de peças de produtos saídos de linha. Pode se valer dos serviços, por exemplo, da Eletrotécnica do Geraldo, que funciona na Entrequadra 708/709, há 26 anos.

Lá, pode-se consertar os mais diferentes tipos de eletrodomésticos, como liquidificador, batedeira, aspirador, enceradeira, ferro de passar. Conserta-se também panelas de pressão. O proprietário, José Geraldo Barbosa, 63 anos, segundo ele muito bem vividos, começou no ofício aos 12 anos de idade, quando arriscou-se a consertar eletrodomésticos da família fora de uso por falta de dinheiro para pagar alguém especializado. Com o passar do tempo, foi pegando prática e os vizinhos passaram a levar aparelhos para o ainda adolescente Geraldo consertá-los.

Com o dinheiro já entrando em seu dia-a-dia, Geraldo viu que tinha futuro trabalhar no ramo. Outro fator importante para sua decisão de permanecer no mesmo ofício foi o natural talento para serviços manuais. Como gostava muito do que fazia, mesmo tendo experiência, resolveu fazer um curso profissionalizante por correspondência para obter conhecimento teórico e aperfeiçoar a prática.

Natural de Sobral, interior do Ceará, Seu Geraldo veio à Brasília procurar melhores condições financeiras e acabou encontrando também sua esposa, com quem é casado até hoje. Pai de três filhos e avô de cinco netos, informa que seu faturamento, em torno de R$ 1500 por mês, dá para o sustento da família. Aposta em preços baixos para ganhar e manter freguesia.

Morando em Taguatinga Norte, tem uma rotina corrida. Abre de segunda à sexta-feira das oito às dezoito horas e, nos sábados, das nove ao meio dia. Diz que prefere ter todas as horas do seu dia ocupadas a contratar um funcionário, para não correr o risco de atender mal um cliante e acabar “queimando” seu nome na praça. Jamais foi assaltado e, a respeito do assunto, brinca: “Bandido não quer serviço, quer dinheiro e aqui eu só tenho serviço.”

Para Seu Geraldo, o trabalho é um lazer e até o compara com jogos de cartas e sinuca. Otimista, ele diz: “Na vida, a gente tem que fazer tudo o que gosta, porque se não fizer perde o entusiasmo, o ânimo, o humor ”. Preocupado em ser correto, Seu Geraldo faz questão de ter a documentação de seu estabelecimento em ordem, como o alvará de funcionamento, para evitar problemas com a fiscalização e trabalhar com tranquilidade. "Gosto de ter as mãos sujas, mas a consciência limpa”, afirma.

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